quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Canola geneticamente modificada chega a territórios inexplorados

Versões geneticamente desenvolvidas da planta de canola (também chamada de colza) estão se espalhando como ervas daninhas nas estradas da Dakota do Norte, dizem cientistas, numa das primeiras ocorrências de uma safra geneticamente modificada se estabelecendo na vida selvagem.
O tamanho do problema que isso pode gerar ainda é assunto de debate. Críticos das safras biotecnológicas já previnem, há tempos, que é difícil evitar que genes – neste caso, genes conferindo resistência a herbicidas comuns – se espalhem, com consequências indesejadas.
“Se existe um problema na Dakota do Norte, é que essas plantas estão se tornando ervas daninhas”, disse Cynthia L. Sagers, professora de biologia da Universidade do Arkansas, que conduziu o estudo.
Os resultados foram apresentados na semana passada, no encontro anual da Sociedade Ecológica da América.
A canola, cujas sementes são imprensadas para criar o popular óleo de cozinha, é um tipo de semente oleaginosa desenvolvida por criadores no Canadá. Nos Estados Unidos, ela é cultivada principalmente na Dakota do Norte e em Minnesota, embora a cultivação esteja se disseminando.
As plantas de beira de estrada aparentemente começam a crescer quando sementes voam dos campos ou de caminhões carregando as safras ao mercado. Nas planícies do Canadá, onde a canola é amplamente cultivada, as plantas biotecnológicas de beira de estrada – resistentes ao herbicida Roundup – se tornaram um problema, segundo Alexis Knispel, que recentemente terminou uma dissertação de pós-doutorado sobre o assunto na Universidade de Manitoba.
Alguns agricultores, explicou ela, tiveram de voltar ao arado em seus campos para controlar as ervas daninhas – uma prática que contribui à erosão do solo –, pois não podem mais usar o Roundup para controlar as plantas de canola desgarradas. Ela também disse que a proliferação da canola de beira de estrada tornaria difícil manter a canola orgânica livre de materiais geneticamente alterados.
A Monsanto, o desenvolvedor da canola resistente ao Roundup, uma das plantas modificadas, disse que as novas descobertas não foram surpreendentes ou preocupantes. Mesmo antes da criação da agricultura biotecnológica, a canola já crescia nas estradas; agora que 90% da canola plantada por agricultores é projetada, seria razoável esperar um percentual similar em amostras de beira de estrada.
Para o estudo da Dakota do Norte, Meredith G. Schafer, aluna de pós-graduação no Arkansas, e colegas atravessaram 3 mil milhas de estradas, parando a cada cinco milhas e coletando amostras de uma planta de canola onde existisse uma.
Das 604 plantas coletadas, 80% eram geneticamente projetadas, segundo Sagers. Algumas eram resistentes ao Roundup, com um gene concedendo resistência ao herbicida, também conhecido como glifosato. Outras eram plantas Liberty Link, com um gene conferindo resistência a glufosinato.
Descobriram que duas plantas possuíam genes proporcionando resistência aos dois herbicidas, sugerindo que as plantas resistentes a cada herbicida teriam acasalado.
A canola biotecnológica também foi encontrada crescendo no Japão, país que nem mesmo cultiva a planta – apenas a importa.
Os cientistas também relataram que ervas geneticamente desenvolvidas se estabeleceram na natureza selvagem do Oregon. Monsanto disse que a canola de beira de estrada poderia ser controlada pela ceifa ou por outros herbicidas. A resistência a um herbicida não dá, a uma planta, uma vantagem sobre as outras – a menos que seja pulverizado exatamente aquele herbicida.
Sagers disse que, em algumas áreas amostradas pelos pesquisadores, o Roundup havia sido pulverizado, deixando de pé apenas a canola resistente a esse herbicida.
Dale Thorenson, diretor assistente da Associação de Canola dos Estados Unidos, afirmou haver ervas daninhas muito mais preocupantes que as plantas de canola.
O milho e a soja geneticamente modificados não se estabeleceram na natureza selvagem, embora sejam cultivados em muito mais acres que a canola.
“Eles são superdomesticados e simplesmente não gostam de viver na natureza”, explicou Norman Ellstrand, professor de genética da Universidade da Califórnia, em Riverside.

Nenhum comentário: